O ALIENISTA por Machado de Assis: o psiquiatra que diagnosticou todos como loucos e, no fim, ele próprio se reconheceu como louco

 





O Alienista é uma obra de Machado de Assis que alguns estudiosos consideram um conto, outros uma novela. O protagonista da ficção é o Dr. Simão Bacamarte, um médico respeitado no Brasil e na Europa.
Formando-se na universidade de Coimbra em Portugal regressa à sua cidade natal, Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde casa-se com a viúva D. Evarista, apesar dela não ser nem bonita nem simpática. 
Seu intuito, porém, era garantir a continuação da sua linhagem, uma vez que pensava ser D. Evarista uma mulher sadia e capaz de dar-lhe filhos robustos e inteligentes, o que não se confirmara.
Decide então dedicar-se integralmente aos estudos da ciência, especificamente da psiquiatria, investigando as causas e o tratamento da loucura humana. Para isto, solicita a autorização do governo local para a construção de uma casa de acolhimento e estudo dos casos de loucura da região. 
A Casa Verde, como ficou conhecido o lugar, era um tipo de manicômio em que eram internados, por tipo de loucura, os sujeitos considerados pelo Dr. Bacamarte como portadores de desvios de conduta ou com ausência das suas faculdades mentais.
Em pouco tempo a residência estava abarrotada de pessoas consideradas dementes por apresentarem sintomas de desvio do equilíbrio cognitivo. Comportamentos corriqueiros e comuns entre as pessoas, mas que fugiam dos padrões de compostura, equilíbrio e ponderação, eram motivos de reclusão na Casa Verde, como ataques de fúria, indecisão, comportamentos repetitivos etc. Mais da metade da população de Itagauí foi internada, o que causou o espanto e a revolta do restante da população.
Uma rebelião emergiu liderada pelo barbeiro Porfírio, que ficou conhecida por “Rebelião dos Canjicas” em homenagem ao apelido do seu líder, a qual destituiu o governo vigente, sendo o poder ocupado pelo barbeiro. Todos ficaram felizes pensando que enfim as tiranias de Bacamarte chegariam ao fim e a Casa Verde seria destruída.
Porfírio, no entanto, fechou um acordo com Bacamarte e se uniram. Ponderou apenas que libertasse os casos menos ofensivos para acalmar os ânimos do povo e agradá-lo. Mais uma vez a população se revoltou, porém desta vez liderada por João Pina, outro barbeiro, que tomou o poder. A Câmara foi restituída e as internações continuaram. O presidente da Câmara foi recluso, assim como o boticário e amigo de Bacamarte, o Crispim; a esposa do médico alienista, D. Evarista, após ficar indecisa sobre qual colar usar num baile, além de outros habitantes de Itaguaí e região, considerados sãos e admirados pela maioria das pessoas, foram enclausurados na Casa Verde, causando indignação e alvoroço entre todos.
Com o passar do tempo, o alienista, isto é, aquele que cuida de alienados ou loucos, chegou a conclusão de que sua teoria estava errada, elaborando assim uma nova teoria. Percebeu com a análise das estatísticas que a loucura era diagnosticada não mais pelo desvio de caráter e conduta, mas pelo seu oposto, ou seja, era considerado demente aquele que apresentasse um comportamento equilibrado, baseado em princípios e valores como a ética, a retidão, a justiça e o bom senso.
Todos os que estavam reclusos até então foram libertados e os que apresentavam as características supracitadas passaram a ser alvos dos estudos e da terapêutica insanas do alienista. Os vereadores logo trataram de instituir uma emenda que os livrasse das determinações da nova lei. 
Um dos vereadores, demostrando ética e retidão, criticou a ação dos colegas e foi um dos primeiros a ser internado na instituição por apresentar as novas características de perfeição de conduta.
A nova teoria mais uma vez foi rejeitada, pois todos apresentaram em algum momento sintomas de imperfeição de conduta, e assim iam sendo libertados até que não restou nenhum interno. 
Bacamarte chegou a conclusão final de que o único que apresentava um comportamento equilibrado e perfeito era ele próprio, sendo então o único louco da cidade, já que seus amigos confirmaram que ele se tratava de uma pessoa centrada, movida pela retidão e por outras qualidades comportamentais. 
Decidiu-se, então, auto-internar na residência que ele mesmo criou, com esperanças de encontrar a sua cura, mas, dezessete meses depois faleceu sozinho e solitário.

Comentários