BATISMO DE SANGUE: religiosos da teologia da libertação são perseguidos e torturados pela Ditadura Militar do Brasil

 



“Batismo de Sangue” é um filme brasileiro dirigido por Helvécio Ratton e lançado nos cinemas nacionais em 2007. Expressa como tema central a adesão dos frades dominicanos à resistência ao regime civil-militar brasileiro, instalado no sistema político através do golpe de Estado de 1964. Foi baseado na obra homônima de Frei Betto, um dos frades perseguidos e torturados durante a ditadura. 

Quem foram os perseguidos e qual ideologia defendiam

Os frades Betto, Tito, Fernando e Ivo, simpatizantes da Teologia da Libertação e seguidores fiéis dos valores e princípios cristãos, deram suporte e apoio político e religioso aos integrantes da Aliança Libertadora Nacional – um dos grupos guerrilheiros de maior resistência e luta contra a ditadura militar que tinha como líder o ex-deputado federal Carlos Marighella, considerado um símbolo de luta e resistência entre os adeptos e simpatizantes dos partidos e movimentos de esquerda –, já que defendiam a liberdade, a democracia, o amor, a ajuda aos oprimidos e outros valores cristãos, apesar de não concordarem com a luta armada.

Passam a ser um dos principais alvos da perseguição constante dos agentes da repressão, pois eram considerados pelos militares como “comunistas subversivos” ameaçadores da ordem sócio-política vigente. Os Freis Ivo e Fernando são capturados pela polícia militar, em 1969, e submetidos a rígidos métodos de torturas, sendo obrigados a revelarem a participação e apoio dos frades dominicanos na oposição do regime. 

A contra gosto são forçados a armarem uma emboscada para ceifar a vida do comandante da ALN, Carlos Marighella, visto como o mais perigoso e ameaçador dos “subversivos rebeldes”, o qual é morto por vários tiros ao chegar numa suposta reunião de rotina do grupo.

O destino de cada um dos membros do grupo

O Frei Betto se refugiou no interior do Rio Grande do Sul onde ajudava opositores e perseguidos do regime a fugirem do país pela fronteira, porém dias depois da prisão dos companheiros também foi localizado e preso.

Frei Tito de Alencar Lima, cearense de Fortaleza e estudante de Filosofia na Universidade de São Paulo (USP), foi o que mais sofreu os efeitos da tortura e do martírio comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, seu principal algoz. 

Após ser torturado no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), durante o seu “interrogatório”, Tito foi transferido do presídio Tiradentes para a Operações Bandeirantes (Oban), onde durante dias seguidos foi submetido a diversos métodos de tortura física e psicológica, como choques nos ouvidos, na boca, nos pés e mãos, nos mamilos e nos órgãos genitais, além de palmatórias, pauladas, queimação com pontas de cigarro, chutes por todas as partes do corpo e outros tipos de agressões.

Mesmo sob forte espancamento e agressão verbal não delatou os amigos e as suas participações e envolvimentos com os opositores da ditadura, dentre eles os representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). 

Seus carrascos atingiram não somente o seu corpo, mas principalmente dilaceraram o âmago da sua alma com constrangimentos e humilhações emocionais, o acusando de traidor da pátria e da Igreja, além de envolverem seus amigos nas críticas e difamações afirmando que os padres não se casavam por que eram homossexuais.

Não suportando mais as dores do corpo e da alma tenta tirar a vida em sua cela cortando seu braço esquerdo com uma lâmina de barbear como forma de protesto e manifestação ao mundo dos horrores e crimes da ditadura. Os militares o impediram de cometer o ato o internando rapidamente no Hospital Militar receando sua morte, pois esta causaria um impacto em todo o mundo e colocaria em cena as torturas inumanas que eram cometidas.

Os demais frades são condenados a 4 anos de reclusão, porém quase completando a pena são libertados pela “justiça” após a intervenção do seu advogado na causa.

O final trágico do Frei Tito

Em 1970, Tito é libertado juntamente com outros presos políticos em troca da liberdade do embaixador suíço que havia sido sequestrado. 

Ele se refugia no Chile, porém, ainda sob perseguição do regime, se exila em Roma, onde não é bem recebido pela cúpula religiosa sendo acusado de “comunista terrorista”. Se muda então para a França e passa a viver no convento Sainte-Marie de La Tourette, em Éveux.

No entanto, continuou sendo atormentado pelos fantasmas da sua mente relembrando os traumas que viveu em um passado não distante. Tinha alucinações de que o delegado Fleury estava lhe perseguindo e iria torturar seus amigos frades. 

Não suportando tanto tormento psicológico, enquanto fruto de uma forte depressão e outros transtornos psiquiátricos, tira sua vida em 1974. 


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