O
filme retrata cômica e ironicamente como as relações afetivas, familiares e
comunitárias são afetadas e desestruturadas pelas relações sociais de produção
do sistema capitalista. Bruno Davert era um gerente de uma fábrica de papel
produzido com material reciclável que após anos de trabalho é demitido e fica
desempregado. As mudanças sofridas por ele e milhões de tantos outros
trabalhadores em todo o mundo são fruto de um contínuo processo de reestruturação
produtiva adotado pelo modo capitalista de produção, aproximadamente no início
da década de 70, para conter a crise econômica estrutural em nível global a
partir da derrocada do Welfare State. Tal conjunto de mudanças e ajustes
estruturais ficou conhecido como políticas neoliberais exatamente por reiterar
e/ou reatualizar alguns princípios e pressupostos do liberalismo clássico em
uma nova conjuntura sociopolítica e socioeconômica do capitalismo.
Bruno
se desespera ao passar meses fora do mercado de trabalho e decide pesquisar os
currículos dos seus concorrentes no mesmo ramo produtivo no qual trabalhava
outrora. Movido pela ânsia de inserir-se neste sistema, que por natureza e
dinâmica é excludente e predatório, decide insanamente executar os cinco
principais e fortes concorrentes seus. Os peritos criminais não conseguem
desvelar qual o verdadeiro criminoso mesmo o interrogando várias vezes.
Sofrendo com a crise econômica toda a família é abalada, principalmente no que
se refere as relações e vínculos afetivos entre o casal. O filho é preso por
cometer furtos de softwares, mas logo é solto com a ajuda do pai que encoberta
o delito e dificulta as investigações.
O
que não passa despercebido no filme é a forma como as pessoas se relacionam
nesta nova sociabilidade fundada na competição, no individualismo exacerbado,
na apatia, no desprezo e no anti-socialismo. Aliás, a vida humana perdeu o seu
valor, isto é, foi banalizada perpassando a cada dia por um processo de
espetacularização, e isto fica evidente na trama quando o filho do protagonista
rir e se diverte com o suicídio do acusado pelos crimes que o seu pai cometeu. Parafraseando
Marx, vivemos na era em que o ter subordinou o ser, ou seja, as mercadorias são
supervalorizadas em detrimento da banalização e destruição da vida. As relações
entre os homens foram coisificadas e as relações produtivas humanizadas. Os
sentimentos de carinho, amor e solidariedade deram espaço para sentimentos
egocêntricos e mesquinhos. Enfim, após conseguir o tão almejado emprego na
empresa Arcadia, Bruno passa a ser alvo de mais um ser em busca de emprego que
é capaz de fazer de tudo para consegui-lo assim como ele o fez.
Autor: Marcondes Torres.
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